O Testemunho de Deus Acerca do Homem
Por Horatius Bonar
O Caminho da Paz de Deus (God´s Way Of Peace). Horatius Bonar. Evangelical Press. 12 Wooler Street, Darlington, Co. Durham, DL1 1Rq, Inglaterra. 1968. Paginas 11-14.
Deus nos conhece. Ele sabe o que somos; Ele sabe também o que Ele pretendeu que fôssemos; e, sobre a diferença entre estes dois estados, Ele fundamenta Seu testemunho acerca de nós.
Ele é amoroso demais para dizer algo desnecessariamente severo; verdadeiro demais para dizer qualquer inverdade; nem pode ter, Ele, qualquer motivo para nos caluniar; porque Ele adora contar do bem, não do mal, que pode ser encontrado em qualquer das obras de Suas mãos. Ele as declarou boas, “muito boas”, no princípio; e se Ele não o faz agora, não é porque Ele não queira, mas porque Ele não pode; pois “toda a carne tem corrompido o seu caminho sobre a terra” (Gen. 6:12).
O divino testemunho acerca do homem é que ele é um pecador. Deus testemunha contra ele, não por ele; e testifica que “não há justo, nem sequer um”; que “não há quem faça o bem”; nenhum “que entenda”; nenhum que sequer busque a Deus, e, ainda mais, nenhum que O ame (Sal. 14:1-3; Rom. 3:10-12). Deus fala ternamente do homem, mas severamente; como alguém com um forte sentimento pelas crianças perdidas, que, todavia, não fará acordos com o pecado, e “de maneira alguma suavizará a culpa”. Ele declara que o homem é um ser perdido, desgarrado, rebelde, “inimigo de Deus” (Rom. 1:30); não um pecador ocasional, mas sempre um pecador; não um pecador em parte, com muitas coisas boas a seu respeito; mas inteiramente pecador, sem qualquer bondade para compensar; tão mal no coração quanto na vida, “morto em delitos e pecados” (Ef. 2:1); um malfeitor, e portanto sob condenação; um inimigo de Deus, e portanto “debaixo da ira”; um transgressor da justa lei, e portanto sob “a maldição da lei” (Gal. 3:10).
O homem caiu! Não este homem nem aquele homem, mas a raça inteira. Em Adão todos temos pecado; em Adão, todos temos morrido. Não é que algumas folhas têm desaparecido ou sido sacudidas ao chão, mas a árvore tem se tornado corrupta, raiz e ramo. A “carne”, ou o “velho homem” – isto é, cada homem que nasce nesse mundo, um filho de homem, um fragmento de humanidade, uma unidade no corpo caído de Adão – é “corrupto”. O pecador não leva meramente o pecado a diante, mas o carrega consigo, como seu segundo eu; ele é um “corpo” ou massa de pecado (Rom. 6:6), um “corpo de morte” (Rom. 7:24), não sujeito a lei de Deus, mas a “lei do pecado” (Rom. 7:23). O judeu educado sob a mais perfeita das leis, e nas mais favoráveis circunstâncias, foi o melhor tipo de humanidade; de civilizada, polida e educada humanidade; a melhor espécie dos filhos de Adão; no entanto, o testemunho de Deus acerca dele é que ele está “debaixo do pecado”, que ele tem se extraviado e que ele está “destituído da glória de Deus”.
A vida exterior de um homem não é o homem, assim como a pintura em um pedaço de madeira não é a madeira, e como o verde musgo sobre a rocha sólida não é a própria rocha. A pintura de um homem não é o homem; é apenas um habilidoso arranjo de cores que se parece com o homem. Portanto, é a capacidade da alma de se voltar para Deus que é o verdadeiro estado do homem. O homem que ama a Deus com todo o seu coração está no estado correto; os homens que não O amam, conseqüentemente estão no errado. Ele é um pecador, porque seu coração não é justo diante de Deus. Ele pode achar que sua vida está muito boa, e outros podem pensar o mesmo; mas Deus o considera culpado, merecedor da morte e do inferno. A bondade externa não pode compensar a maldade interna. As boas obras feitas aos seus companheiros não podem destacar-se de seus maus pensamentos sobre Deus. E ele deve estar cheio destes maus pensamentos, desde que ele não ama este infinitamente amável e infinitamente glorioso Ser, com todas as suas forças.
O testemunho de Deus acerca do homem é que ele não ama a Deus com todo o seu coração, na verdade, que ele não O ama de maneira alguma. Não amar nosso próximo é pecado; não amar nossos pais é um pecado maior; mas não amar a Deus é um pecado maior ainda.
O homem não precisa tentar dizer uma palavra por si mesmo, ou advogar “não ser culpado”, a menos que ele possa mostrar que ama, e que sempre amou, a Deus com todo o seu coração e alma. Se ele puder dizer verdadeiramente isto, ele será totalmente justo, não um pecador, e não precisará de perdão. Ele encontrará seu caminho para o reino sem a cruz ou sem um Salvador. Mas, se ele não puder dizer isto, que “cale a boca”, e seja “culpado diante de Deus”. Em todo o caso, favoravelmente, um bom modo de vida (externamente) pode dispô-lo, e a outros, a apenas olhar para seu caso agora, o veredicto contra ele virá a seguir. Este é o dia do homem, quando os julgamentos dos homens prevalecem; mas o dia de Deus está chegando, quando o caso será julgado em seus reais méritos. Então, o Juiz de toda a terra fará justiça, e o pecador será envergonhado.
Há ainda outra sentença pior contra ele. Ele não crê no nome do Filho de Deus, nem ama o Cristo de Deus. Que seu coração não seja justo diante do Filho de Deus é o segundo. E é este segundo que é coroado como o pecado esmagador, que carrega consigo a condenação mais terrível que todos os outros pecados juntos. “mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus” (João 3:18). “Quem não crê em Deus, o faz mentiroso; porque não crê no testemunho que Deus de seu Filho deu” (1 João 5:10). “Quem não crer será condenado” (Marcos 16:16). E daí é que o primeiro pecado, o qual o Espírito Santo leva para casa, de um homem é a incredulidade; “quando ele (o Espírito Santo) vier, convencerá o mundo do pecado, porque não creram em mim” (João 16: 8-9).
Tal é a condenação de Deus para o homem. A Bíblia toda está cheia disto. Que o grande amor de Deus, o qual Sua Palavra revela, está baseado nesta condenação. É o amor ao condenado. O testemunho de Deus acerca de Sua própria graça não tem sentido, salvo se repousar sobre, ou tomar como certo Seu testemunho acerca da culpa e ruína do homem. Não é contra o homem, como simplesmente um ser moralmente enfermo ou lamentavelmente desafortunado que Ele testemunha, mas como culpado de morte, sob a ira, sentenciado a maldição eterna, pelo crime dos crimes, um coração não justo diante de Deus, e não verdadeiro diante de Seu Filho encarnado.
Este é um veredicto divino, não um humano. É Deus, não o homem, que condena, e Deus não é homem para que minta. Este é o testemunho de Deus acerca do homem, e sabemos que esta testemunha é verdadeira. Isto nos é preocupante demais para recebê-lo como tal e agir a respeito.
Este texto foi publicado com a autorização de Len Hardison, Diretor de Desenvolvimento do Third Millennium Ministries. Agradecemos a forma carinhosa com que acolheu nossa petição. Deus abençoe este ministério!
Tradução por Nelson Ávila (Aluno da Escola Charles Spurgeon).
publicado originalmente com o título “God´s Testimony Concerning Man”, na RPM Magazine, no site da Third Millennium Ministries:
http://old.thirdmill.org/magazine/current.asp/category/current/site/iiim