A Raiz dos Justos
Por A.W. Tozer
Uma diferença marcante entre a fé dos nossos pais como concebida pelos pais, e a mesma como entendida e vivida pelos seus filhos, é que os pais estavam interessados na raiz da matéria, enquanto que os seus descendentes atuais parecem interessados somente no fruto.
Parece ser esta a nossa atitude para com certas grandes almas cristãs cujos nomes são honrados entre as igrejas, como, por exemplos, Agostinho e Bernardo em tempos mais antigos, ou Lutero e Wesley em tempos mais recentes. Hoje escrevemos biografias de vultos como esses e celebramos o seu fruto, mas a tendência é ignorar a raiz da qual proveio o fruto. “A raiz dos justos produz o seu fruto”, diz o sábio em Provérbios.
Os nossos pais olhavam bem para a raiz da árvore e se dispunham a esperar com paciência pelo aparecimento do fruto. Nós exigimos o fruto imediatamente, ainda que a raiz seja fraca e cheia de calosidade, ou inexista completamente. Os impacientes cristãos de hoje desculpam as crenças simples dos santos doutros tempos e sorriem de sua séria abordagem de Deus e das coisas sagradas.
Eram vítimas da sua perspectiva religiosa limitada, mas ao mesmo tempo eram grandes e vigorosas almas que conseguiram obter uma experiência espiritual satisfatória e fazer muita coisa boa no mundo, apesar dos seus defeitos. Assim, imitaremos o seu fruto sem aceitar a sua teologia e sem incomodar-nos demasiadamente com a adoção da sua atitude de tudo ou nada para com a religião.
Assim dizemos (ou mais provavelmente pensamos sem dizer), e toda voz da sabedoria, todo dado da experiência religiosa, toda lei da natureza nos diz quão errados estamos. O galho que se desliga da árvore numa tempestade pode florir brevemente e pode dar ao transeunte despreocupado a impressão de que é um ramo saudável e frutífero, mas a sua tenra inflorescência logo aparece, e o próprio ramo seca-se e morre. Não há vida duradoura, separada da raiz.
Muita coisa que passa por cristianismo hoje é o brilhante e breve esforço do ramo cortado para produzir seu fruto na estação própria. Mas as profundas leis da vida estão contra isso. A preocupação com as aparências e a correspondente negligência para com a raiz que está fora da vista, raiz da verdadeira vida espiritual, são sinais proféticos que passam despercebidos.
Resultados “imediatos” é tudo que importa, rápidas provas do sucesso presente, sem se pensar na próxima semana ou no próximo ano. O pragmatismo religioso avança desenfreadamente entre os ortodoxos. A verdade é o que quer que funcione. Se dá resultado, é bom. Há apenas uma prova do líder religioso: sucesso. Tudo se perdoa, exceto o fracasso. Uma árvore pode resistir a toda e qualquer tempestade se sua raiz é firme, mas quando a figueira que o Senhor amaldiçoou secou “desde a raiz”, ela toda “secou” imediatamente.
Uma igreja firmemente enraizada não pode ser destruída, mas nada pode salvar uma igreja cuja raiz secou. Estímulos, campanhas promocionais, ofertas em dinheiro, belo edifício — nada pode trazer de volta a vida à árvore sem raiz.
Com uma feliz desconsideração pela coerência da metáfora, o apóstolo Paulo nos exorta a atentar para as nossas origens. “Arraigados e alicerçados em amor”, diz ele no que é obviamente uma confusão de figuras; e outra vez concita os seus leitores a permanecerem “arraigados e edificados nele”, o que encara o cristão como uma árvore bem arraigada e como um templo a edificar-se sobre sólido fundamento.
A Bíblia inteira e todos os grandes santos do passado se unem para dizer-nos a mesma coisa. “Nada considerem como líquido e certo”, eles nos dizem. “Voltem para as fundas raízes. Abram o coração e sondem as Escrituras. Levem sua cruz, sigam o seu Senhor e não dêem atenção à nossa moda religiosa que passa. As massas estão sempre erradas. Em cada geração o número de justos é pequeno. Certifiquem-se de que estão entre eles”.
“O homem não será estabelecido pela iniqüidade; mas a raiz dos justos não será removida” (tradução literal da versão usada pelo autor).
Extraído do Livro: “O melhor de A. W. Tozer”- Ed. Mundo Cristão.